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Para indústria, inovação ainda parece utopia

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inovação - shutterstock

Concorrência internacional e burocracia nos processos de registro de produtos são os obstáculos para inovar

Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A máxima do químico francês Lavoisier parece valer para a indústria da saúde brasileira - acostumada a melhorar, incrementar e até mesmo copiar o que já existe. As inovações disruptivas – aquelas que propõe novos paradigmas – ainda passam longe das pequenas e médias empresas que compõem (65%) o segmento.

Com um déficit de US$ 4,16 bilhões na balança comercial de produtos para a saúde (*), como é possível sair da rota de sobrevivência e da competição com mercados conhecidos e estabelecidos para arriscar e explorar novas possibilidades? Para o presidente executivo da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), Paulo Fraccaro, não tem mágica, “o Brasil precisa ter uma reforma política, administrativa e tributária para que possa simplificar a vida das empresas. Não vejo de jeito nenhum uma saída em curto prazo”.

O que empresários e profissionais do setor evidenciam é que a inovação (veja posição do Brasil na tabela), inevitavelmente, depende de políticas estruturais de mercado, e, é neste aspecto que a indústria nacional emperra. Dentre os unânimes entraves citados pelos entrevistados estão: a demora da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para registrar um produto e a desvantagem em competir com importados, que chegam com total isenção de impostos para os hospitais e entidades públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos, que abrangem praticamente 90% do segmento assistencial. “Se eles comprarem no Brasil pagam até 48% de imposto. Isso é um desestímulo para produzir no Brasil. A saída seria deixar os produtos médicos isentos de impostos ou criar uma lei para isentar tanto os produtos médicos nacionais quanto os estrangeiros fornecidos para esses hospitais”, comenta o coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde (Comsaude) da Fiesp, Ruy Baumer, lembrando que essa “briga” já dura sete anos.

Entretanto, o Brasil não está totalmente por fora das características imprescindíveis para inovar - que são, segundo Baumer, ter mercado, fomento, recurso, incentivo à inovação por meio de lei, pessoas especializadas e informação.

Apesar da escassez de mão de obra na área e burocracias atreladas à legislação, o executivo afirma que há um parque instalado de empresas “razoavelmente” capazes de inovar. “Também temos boas ideias, acesso à informação e mecanismos de fomento - com BNDES, editais da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Finep - Inovação e Pesquisa, entre outros”.
As oportunidades hoje são aproveitadas por meio de inovações incrementais, mais acessíveis do que o desenvolvimento de produtos completamente novos. “As empresas brigam por nichos secundários do mercado, que são um estepe provisório. Não são um passo para um grande projeto, o que as deixam muito tempo em um tamanho pouco competitivo”, diz Fraccaro. 




Driblando os obstáculos
Estabelecer parcerias internacionais e investir em serviços têm sido a maneira da empresa familiar Equipamed - fornecedora de produtos e serviços de tecnologia médica para salas cirúrgicas, clínicas médicas e unidades de terapia intensiva -, manter-se sustentável desde 1979.

Em meio ao assédio de compra das multinacionais que, cada vez mais, se interessam em estabelecer uma base comercial e até de fabricação no Brasil, a Equipamed está sempre antenada nas tendências mundiais e prospectando alianças. ”A maneira que encontramos para sermos competitivos é encontrar fornecedores de fora para poder montar os equipamentos estrangeiros no Brasil”, conta o gerente de produto e qualidade da companhia, Celso Dias. O negócio é viável devido à fábrica que a Equipamed possui no município de Juquitiba, em São Paulo.

“Ao montar o produto aqui, ele acaba se tornando nacional, com a nossa marca, e conseguimos reduzir investimentos para desenvolver novos e a mão de obra em engenharia acaba vindo de fora”, explica Dias.

Com 100 funcionários e um faturamento aproximado de R$ 50 milhões por ano, o serviço de locação e gestão do equipamento é o grande valor da companhia, que assiste a demanda hospitalar crescer muito mais nesse sentido do que na compra de produtos nacionais.

“O fato é que se produz cada vez menos no Brasil e é isso que gera riqueza para o País. Os serviços agregados é que aumentam os custos, gerando uma onda de inflação”, opina Baumer.

Uma companhia que seguiu o pensamento de “inovar é pensar global” foi a brasileira Fanem, líder na área de equipamentos neonatais. Não é à toa que tem 90 anos de existência, está em mais de 100 países e detém um percentual de exportação entre 30% a 35% do faturamento.

Com uma equipe constantemente repensando o design e a usabilidade dos produtos, a Fanem sempre foi norteada pelo “feedback” dos clientes, enfatiza seu presidente, Djalma Luiz Rodrigues.

“É preciso acreditar no produto fabricado, certificar a qualidade dentro do sistema regulatório local e dos países alvo, se dedicar à qualidade e também ao preço para ser competitivo”.

Os números da Fanem mostram o foco em desenvolver e inovar. Nos últimos dez anos, 21 produtos foram lançados. “Ao longo da história da medicina brasileira, muitos protocolos de atuação junto aos pacientes foram embasados nas tecnologias que a Fanem empregou”, conta Rodrigues, lembrando do pioneirismo da organização, iniciado na década de 20, em equipamentos eletromédicos e de laboratórios.

Apesar das barreiras estruturais e, certamente, culturais, qualquer empresa, independente do porte, que tem a meta em inovar está em busca do relacionamento entre os players, de sondar parcerias e de aprender novos modelos e tecnologias que despontam no mundo.
“Acredito que a própria dificuldade no cenário nacional iniba a cultura da inovação. Se um funcionário tiver uma boa ideia e contar ao dono da empresa, ele vai ouvir ‘sabe quanto tempo eu demoro para registrar esse produto? De dois a três anos. Esquece.’ Ele vai acabar copiando algum, que é mais rápido. Não há dúvida: no fim, acabamos sendo copiadores”, finaliza Fraccaro.